Aprimorar o olhar individual é o maior aprendizado do RH na pandemia, diz diretora do Einstein

Aprimorar o olhar individual é o maior aprendizado do RH na pandemia, diz diretora do Einstein

Publicado em 14 de julho de 2022

Miriam Branco, diretora-executiva de RH do Hospital Albert Einstein, fala sobre livro em que escreve sobre os desafios na gestão de pessoas nos últimos dois anos e meio.

Com 18 mil funcionários, espalhados em hospitais em mais de um estado, alocados na linha de frente ao home office, o Hospital Albert Einstein é um microcosmo de todos os principais dilemas que os RH’s vivenciaram ao longo de dois anos de pandemia. Se, por um lado, precisou contratar milhares de pessoas do dia para a noite, do outro precisou reduzir jornadas e salários de quem, no pico da covid, não tinha trabalho com o cancelamento de consultas de rotina e de cirurgias eletivas. Se precisou realocar pessoas para a linha de frente, também precisou deslocar para a casa médicos experientes e estrelas com mais de 60 anos.

São tantos aprendizados diários e que mudaram a forma de gerenciar pessoas que a diretora-executiva de RH do hospital, Miriam Branco, decidiu escrever um livro. “Na linha de frente: enfrentando o desconhecido”, escrito junto com Simone Azevedo, diretora de desenvolvimento e educação corporativa do Einstein, que acaba de ser lançado pela Editora dos Editores.

Em live do RH 4.0, mediada pela editora de Carreira Valor, Stela Campos, Branco conta que precisou materializar na prática tendências que costumava ver nos livros e em outras empresas. E a principal delas envolve descobrir como engajar, motivar e capacitar pessoas diante de cenários cada vez mais incertos e de novos direcionamentos estratégicos e de saúde. O RH precisou se organizar – e o plano de metodologia ágil montado em 2019 precisou ser refeito. “Não dava para trabalhar de forma departamentalizada”, conta Branco. As lideranças precisaram ser retreinadas de forma contínua – tanto tecnicamente (mais de 30 protocolos da covid foram colocados em prática), quanto em habilidades interpessoais.

 “Nós nunca ouvimos tanto os funcionários e passamos a entender e lidar com demandas que não éramos acostumados – como líderes e como RH”. Para garantir conforto e segurança para quem estava na linha de frente e precisava ficar mais isolado, o hospital fez parcerias com hotéis e também com escolas para filhos de 3 a 14 anos passarem o dia. “Conseguimos oferecer para todos isso? Não. Foram 500 crianças. Mas foi uma iniciativa pontual e concentrada, mas que deixa todas as equipes mais felizes”. Outra decisão que ela considera arrojada foi oferecer para todos os funcionários e seus dependentes que fossem infectados e precisassem de internação o tratamento no próprio hospital. “Nós não tinhamos noção do impacto dessa decisão até em termos de custo, mas era e foi algo que daria segurança a todos os times”.

A satisfação geral dos funcionários cresceu em 2021, conta Branco, (de 92 para 96 na métrica ‘orgulho de trabalhar’). Muito embora, analisa a executiva, o RH não tenha feito nenhuma mudança significativa no pacote geral de benefícios. “O que fizemos foi aprofundar o olhar do RH e dos líderes para atender rapidamente necessidades múltiplas e individuais que foram surgindo, como no caso da escola, do hotel, do home office, de rodízio de funções, de kit alimentação para quem mora sozinho e pegou covid e não conseguia ir comprar comida, de cesta básica para nossa população operacional mais vulnerável [1000 pessoas].

Outro desafio para o RH foi avisar um grupo enorme de recém-contratados de que eles teriam que ir trabalhar no hospital do Jardim Ângela, periferia de São Paulo e mantido em parceria pública, e que viu em determinado momentos os casos de covid-19 explodirem. “Contratamos pessoas falando que elas iriam trabalhar no hospital do Morumbi [região de elite paulista] e de repente precisamos avisá-las que não seria mais lá. A liderança direta dos hospitais precisou se movimentar para oferecer tímulos, recursos iguais e ônibus para o deslocamento”. No fim, Branco disse que muitos profissionais pediram para continuar lá por encontrarem propósito trabalhando na área pública.

Aprimorar esse olhar mais individual e customizado, em uma força de trabalho grande, descentralizada e com múltiplas demandas profissionais e pessoais, é o maior aprendizado para Branco. “E o desafio que continua daqui para frente. Os líderes nunca tiveram que se preocupar tanto com tudo que envolve o entorno e contexto dos funcionários. Mas é essa escuta e preocupação que engajará e fará com que talentos permaneçam nas empresas”.

Fonte: Valor Econômico
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