Trabalhador da BRF morre preso em câmara a 18 graus negativos

Trabalhador da BRF morre preso em câmara a 18 graus negativos

Publicado em 20 de agosto de 2024

Acidente aconteceu em um centro de distribuição da empresa em Embu das Artes (SP).

Um trabalhador da BRF, dona das marcas Sadia, Perdigão e Qualy, morreu depois de ficar preso em uma câmara de refrigeração, com 18 graus negativos, de um centro de distribuição da empresa em Embu das Artes (SP), na noite de quinta-feira (15/8). A vítima, de 43 anos, foi socorrida e encaminhada para um hospital da região, mas não resistiu.

Dezenas de prateleiras com pallets de produtos e painéis de aço empilhados caíram sobre o funcionário enquanto ele trabalhava na unidade, em frente à única porta de acesso e saída de trabalhadores, bloqueando a passagem. Há vídeos sobre a tragédia circulando nas redes sociais desde o fim de semana.

No momento da queda, o empregado não fazia manobras nas prateleiras que despencaram, e havia ainda outro funcionário no mesmo corredor, mas ele conseguiu escapar com ferimentos leves. No entanto, ambos ficaram presos na câmara até a liberação da porta e a chegada do Corpo de Bombeiros. A delegaria de Embu das Artes, que apura a ocorrência, informou que o caso foi registrado como homicídio e lesão corporal, mas que a morte segue sob investigação.

Segundo a delegacia, é preciso verificar as condições da câmara no momento, ou seja, se havia excesso de pallets estocados no local, acima de limites permitidos de peso, além de ser necessário entender as alternativas de segurança para empregados na câmara.

Em seu relatório integrado de 2023, em que cita ações de ESG, que envolvem a segurança de trabalhadores, a BRF disse que “manter seguras todas as pessoas é sempre a prioridade porque respeita a vida e a saúde como valores soberanos”. No documento, a companhia registrou ainda que vinha com “conquistas relevantes em sustentabilidade e no aperfeiçoamento dos padrões de governança”.

Centros de distribuição de congelados armazenam uma grande quantidade de produtos. Em 2018, o centro da BRF de Embu das Artes tinha 25,4 mil posições de pallets, segundo relatou a empresa na época, o que exige um amplo suporte para armazenamento, para evitar superlotações ou falta de espaço para armazenagem.

Em 2018, o processo de distribuição em Embu das Artes tinha 99,95% de precisão, segundo a companhia informou na ocasião.

O Valor tentou contato com a família do empregado morto, mas recebeu a informação de fontes da delegacia que a família não se manifestou se irá ou não processar a companhia.

Essa não é a primeira vez que há problemas envolvendo funcionários da BRF em câmaras frias. Em 2013, a Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) reconheceu o direito de uma ajudante de frigorífico da BRF ao recebimento de adicional de insalubridade. A funcionária dizia que permanecia por longos períodos em câmaras frigoríficas, exposta a temperaturas abaixo de 12ºC, e a ruídos acima dos níveis toleráveis.

Ainda segundo ela, era necessária a concessão de intervalos para recuperação térmica do organismo, o que não era admitido pela empresa. A cada 1h40, era necessária interrupção de 20 minutos.

Houve decisão unânime da Segunda Turma favorável à empregada, e a BRF foi condenada a pagar à trabalhadora adicional de insalubridade referente ao período do contrato. A decisão já transitou em julgado.

Sobre o caso em Embu das Artes, a BRF foi procurada para informar se há alguma forma de acesso em caso de bloqueio para a saída de empregados do local onde ocorreu a morte e também para dizer se identificou excesso de itens estocados em áreas nas câmaras. Até o momento, a empresa não se manifestou sobre esses pontos.

Na sexta-feira, a companhia disse ter acionado os protocolos de segurança, direcionando equipes de pronto-atendimento para assistência às pessoas. Ela afirmou que lamenta profundamente o ocorrido, que está prestando apoio à família do empregado morto e que reitera seu compromisso com a segurança. A BRF infomou ainda que isolou a área após a tragédia.

Fonte: Valor Econômico
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