Brasil completa seis anos com mais de 10 milhões de desempregados

Brasil completa seis anos com mais de 10 milhões de desempregados

Publicado em 16 de maio de 2022

Resultado da PNAD Contínua para o primeiro trimestre de 2022 mantém a persistência de um ciclo de elevadas taxa de desocupação, que agrava crise econômica, diminui a renda e aumenta as desigualdades.

A estabilidade da taxa de desocupação no país, em 11,1%, e em quase todos os Estados nos primeiros três meses do ano, reforça a persistência de um cenário desanimador enfrentado pelos brasileiros há exatos seis anos: a convivência com altos níveis de desemprego. Agora, são 11,9 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho, ultrapassando o tamanho da população do Rio Grande do Sul, de 11,4 milhões de pessoas.

Os dados coletados, entre janeiro e março de 2022, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nessa sexta-feira (13), não demonstram, na avaliação de muitos especialistas, a estabilidade dos saldos de vagas em território nacional, ou a volta aos patamares pré-pandemia. Pelo contrário, apontam, sim, para a permanência de um quadro de estagnação que impede a acomodação de mais de 10 milhões de pessoas no mercado de trabalho e amplia os efeitos da retração para a economia.

Esse é o contingente de cidadãos que vive às margens do emprego no Brasil, desde o primeiro trimestre de 2016. E, mesmo com algumas oscilações nas últimas amostragens do ano passado, de acordo com o coordenador da PNAD/IBGE no RS, Walter Rodrigues, chegar ao nível anterior ao da pandemia, em 2019, não pode “ser considerado um grande feito”. Ele justifica a afirmação pela correlação estreita entre desemprego e produção.

— Vivemos um ciclo negativo: se a situação está ruim nos empregos, a população tem menos poder aquisitivo. Isso faz com que a economia não cresça. Uma economia que não cresce, não contrata e ingressa-se num processo de retroalimentação desse mesmo ciclo — sintetiza.

Em meio ao espiral de problemas, Rodrigues destaca um fenômeno que também é bastante típico do Rio Grande do Sul. Trata-se da escalada de postos gerados na subcategoria dos chamados trabalhadores por conta própria, ou os informais. Segundo ele, percebe-se, a partir de 2021, uma recuperação, “que inicialmente poderia parecer positiva”, mas foi centralizada nesses grupos, isto é, os que recebem as piores remunerações.

Entre as causas, ele aponta a rápida saída do mercado de trabalho das pessoas que ganhavam menos, durante a pandemia. Como resultado, acrescenta: os rendimentos médios experimentaram elevação por um período restrito, “pois os que recebiam menos deixaram de puxar a média salarial para baixo”.

A partir do ano passado, entretanto, comenta o coordenador do IBGE no RS, acontece a inversão da curva. Agora, os informais retornam e, outra vez, achatam os cálculos salariais. Esse é um dos fatores que levaram o rendimento médio apurado, de janeiro a março, ao patamar de R$ 2.548. Apesar do aumento de 1,5% em relação ao último trimestre de 2021 (R$ 2.510), a cifra é 8,7% inferior à registrada em igual período do ano passado (R$ 2.789).

— Se não há atividade econômica, contrata-se menos pessoas. E quando se contrata menos pessoas, há menos circulação de renda e gera-se uma oferta de pessoas para trabalhar que é maior do que a procura. Consequentemente, trará reflexos para baixar ainda mais os salários. Em tese, o quadro deveria contribuir para frear a atividade e reduzir a inflação, mas não é o tem ocorrido — ilustra Rodrigues.

Em 2013, taxa de desemprego era de 6,3%

De fato, no Brasil, puxada pela informalidade, a taxa de desocupação (percentual de pessoas da força de trabalho que estão desempregadas) apurada no primeiro trimestre deste ano já é igual a nível pré-pandemia (também 11,1%), depois de ter atingido o pico de 14,9% entre o terceiro trimestre de 2020 e o primeiro de 2021. Ainda assim, está bastante distante dos 6,3% registrados no quarto trimestre de 2013, quando o desemprego alcançou o menor nível da série histórica na PNAD Contínua.

No Rio Grande do Sul, a trajetória decrescente, pós-covid-19, começa no primeiro trimestre de 2021, quando a taxa sai de 9,5%, para 8,9%, até bater em 7,5%, nos três meses iniciais de 2022. O desempenho é pouco superior aos 7,3% exibidos no ano anterior ao da pandemia. Por outro lado, está bastante acima do menor patamar, de 4,4%, registrado nos três meses finais de 2012.

Em números absolutos, no Brasil, na comparação entre o quarto trimestre, de 2012 e o primeiro de 2022, a população desocupada quase dobrou — de 6,7 milhões para 12 milhões (78,5%). Significa que um contingente de 5,2 milhões de brasileiros foram alçados às indigestas estatísticas do IBGE e por lá permanecem há seis anos.

No Rio Grande do Sul, não é diferente. Em igual período, 244 mil gaúchos passaram a frequentar o índice de desemprego, que era de 256 mil pessoas nove anos atrás, no início da série, rondado, a partir de então, frequentemente, a marca de meio milhão de desempregados.

Ainda assim, o Estado conta com uma das menores taxas de desocupação entre as unidades da federação. Com 7,5% da força de trabalho desempregada – enquanto a Bahia chega a 17,6% e o país a 11,1% – o RS detém o sexto menor percentual, atrás de Santa Catarina (4,5%), Mato Grosso (5,3%), Mato Grosso do Sul (6,5%), Paraná (6,8%) e Rondônia (6,9%).

Persistência do desemprego elevado é sintoma de doença crônica na economia

Diante do quadro, economistas, sociólogos e empresários, consultados por GZH, identificam, pelo menos, uma zona de consenso: mais devastador do que o patamar elevado do desemprego tem sido a persistência destes níveis ao longo dos anos.

O economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS, Ely José Mattos, chama a atenção para o fato de que, mesmo com os efeitos da pandemia, sentidos em todo o planeta, o Brasil ainda apresentava, no fechamento de 2021, um mercado de trabalho mais corroído do que o de seus pares na América Latina. Nesse contexto, a taxa de desocupação, por aqui (11,1%), ficava acima de economias fragilizadas, há bastante tempo, como é o caso da Bolívia, cujo índice era de 5%, e da Argentina, com 9,3%, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O desempenho nacional, salienta Mattos, também está longe do ideal quando o critério é a média dos membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): 6%.

Ele explica que sempre haverá algum percentual de desemprego, independentemente, do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação. É o que se denomina de desemprego friccional. Ou seja, aquelas pessoas que estão fora do mercado por razões que não se relacionam com a oferta e a demanda de vagas e fazem com que, em economias desenvolvidas, como as do Japão e da Suíça, por exemplo, haja índices de 2% e 2,5%, respectivamente.

— Não há um número mágico que indique níveis perigosos, mas alguns dados, quando tomam corpo, demonstram uma patologia, um sinal de que a economia não vai bem. Quando há uma sociedade com desemprego acima do nível friccional, significa que ela não consegue alocar essas pessoas que deixam de produzir e gerar crescimento e consumo no país. É o que vivemos, hoje, no Brasil, onde a taxa pode ser considerada muito elevada e bastante permanente — analisa.

Fonte: Gaúcha GZH
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