09 nov Clubes de leitura ajudam executivos a discutir gestão
Clubes de leitura ajudam executivos a discutir gestão
Com clássicos da literatura e títulos modernos, ação promove conexão entre as pessoas, estimula o trabalho em equipe, a resiliência e a motivação.
Os clubes de leituras corporativos estão dando um passo à frente. Depois de promoverem debates on-line entre executivos durante o confinamento provocado pela covid-19, agora organizam mentorias sobre gestão e liderança, baseadas em títulos lidos pelas equipes, com encontros híbridos ou presenciais. Para as empresas que adotam as atividades, a intenção é gerar mais conexões entre os funcionários e estimular o trabalho em equipe, além de discutir temas como resiliência, carreira e motivação.
Na Adium, grupo farmacêutico com presença em 18 países e 700 funcionários no Brasil, a ideia, iniciada em 2021, foi batizada de laboratório de leitura e já percorreu obras como “A festa de Babette”, da dinamarquesa Karen Blixen (1885-1962) e o “O conto da ilha desconhecida”, do português José Saramago (1922-2010).
De acordo com Alexandre Seraphim, gerente geral da Adium no Brasil e idealizador da iniciativa na companhia, o número de participantes, todos da liderança, passou de 36 em 2021 para 58 no ano passado e chegou a 72 executivos, até setembro. “Em 2024, vamos ampliar a participação focando nos novos colaboradores”, diz.
O clube de leitura da empresa conta com o apoio de uma biblioteca com cerca de 1,5 mil opções, entre volumes físicos, digitais e audiolivros. O espaço conta com curadores que renovam o acervo e recomendam novidades com base nos interesses dos times, explica.
Um dos clássicos revisitados nas mentorias é “O velho e o mar”, do americano Ernest Hemingway (1899-1961), que acompanha um pescador que se lança sozinho ao mar, luta pela sobrevivência e passa dias sem pescar, até conseguir fisgar um espadarte de 500 quilos. Mas acaba perdendo o peixe após ataques de tubarões e retorna à costa apenas com uma carcaça.
Seraphim diz que o enredo é analisado pelos gestores a fim de avaliar se o personagem pode ser considerado um empreendedor de sucesso. “A leitura remete a valores como coragem, resiliência e autoconhecimento, elementos fundamentais no enfrentamento dos desafios cotidianos das corporações”, assegura.
O gestor explica que o método dos “laboratórios” de leitura consiste em três encontros com grupos de 10 a 15 funcionários, após a leitura dos livros. Podem começar a distância e serem finalizados com uma reunião presencial. “Um dos efeitos mais importantes que identificamos na ação é o fortalecimento da empatia, com mais estímulo à colaboração e ao trabalho em equipe.”
A próxima obra a ser “mentorada” deve ser “A tempestade”, do inglês William Shakespeare (1564-1616), com integrantes do comitê executivo. A peça, que tem como cenário uma ilha habitada por um feiticeiro em busca de vingança, é repleta de reviravoltas que abordam questões como liberdade e perdão. “É uma história de superação, sabedoria e reconciliação, com reflexões sobre o exercício da liderança.”
“Leitores corporativos se dão melhor com livros que, sem deixar de serem densos, são mais curtos [pela falta de tempo]”
O gerente geral da Adium diz que a escolha das obras é feita pela área de recursos humanos, em conjunto com a equipe da Casa Arca, empresa especializada em organizar atividades de leitura em grandes organizações.
De acordo com o historiador Dante Gallian, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e sócio-fundador da Casa Arca, os leitores “corporativos” se dão melhor com livros que, sem deixar de serem densos, são mais curtos. “Levamos em consideração a falta de tempo dos executivos”, explica. Clássicos menos volumosos ou contos podem ser lidos de forma tranquila e, a partir daí, iniciamos os encontros, diz. “As reuniões podem ser semanais e com duração de uma hora e meia, quando convidamos os participantes a contarem suas histórias de leitura, privilegiando a maneira com que cada livro despertou questionamentos”, detalha Gallian.
Na opinião de Isabel Alves Azevedo, chief human resources officer (diretora de RH) da seguradora Fairfax Seguros (FF), empresa com 320 funcionários que acaba de iniciar um programa trimestral de leituras e mentorias, a proposta é incentivar conexões e a formação de lideranças.
O primeiro assunto na mesa é inspirado em “Todos são importantes – O extraordinário poder das empresas que cuidam das pessoas como gente e não como ativos”, de Bob Chapman, CEO da multinacional americana de tecnologia Barry-Wehmiller, e Raj Sisodia, autor de vários títulos sobre gestão de negócios, como a série “Capitalismo consciente”.
“O programa é aberto a todos os colaboradores, mas o público-alvo são coordenadores, superintendentes, gerentes e diretores, que terão atividades individuais e coletivas”, explica Azevedo. O grupo de líderes representa 20% da equipe da companhia. Cada mentoria pode levar até quatro semanas, uma hora por semana, no horário do expediente.
Os mentores orientam os funcionários, enquanto leem juntos e discutem as ligações entre o livro e experiências pessoais, diz Azevedo. Em uma segunda fase, as turmas apresentam sugestões de novas obras e, após uma votação, escolhem o assunto das próximas sessões. “As mentorias são coordenadas pelas lideranças e, dependendo do tema, podem ser conduzidas pelo head de RH ou o CEO.”
O projeto começou a partir da criação de um espaço de leitura, com empréstimo de livros, dentro da empresa, em agosto. O local conta com mais de 100 exemplares, doados pelos empregados, como “Shackleton, uma lição de coragem – A incrível saga de dedicação e heroismo do grande explorador da Antártida”, da dupla Margot Morrell e Stephanie Capparell.
A proposta é colaborar para uma cultura de desenvolvimento, assegura a diretora. “Não aprendemos apenas com os livros, mas sobre as pessoas da organização.”
Em setembro, a adesão dos times ao núcleo literário da FF Seguros marcava 10% da folha. “A meta para o primeiro semestre de 2024 é subir para 25%”, afirma Azevedo. Nessa linha, foi desenhado um plano de fidelidade para os visitantes, que poderão trocar pontos por mais livros, cursos e viagens.
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