12 mar Como ajudar os jovens a lidar com a ansiedade no trabalho
Como ajudar os jovens a lidar com a ansiedade no trabalho
A colunista Sofia Esteves escreve sobre ações que podem ser tomadas no contexto organizacional para minimizar esse transtorno que afeta muitas pessoas.
Um pouco de ansiedade no trabalho é natural. Faz parte. Você e eu já passamos por isso, e certamente enfrentaremos essa sensação incômoda outras vezes no futuro. No entanto, hoje em dia, parece que vivemos uma realidade na qual esse estado deixou de ser passageiro para nos acompanhar quase que a todo momento.
Não estamos falando mais de episódios isolados de ansiedade, e sim de um transtorno generalizado que tomou conta do mundo do trabalho. Com certeza, você já se deparou com pesquisas e dados sobre o tema, comprovando que o problema não é exclusividade de um ou outro país – trata-se de um fenômeno global. E, pior do que isso, é o fato de que atinge principalmente pessoas jovens.
No caso do Brasil, os dados são alarmantes. Diante da pergunta sobre a frequência com que sentiu ansiedade no último ano, 60% do público jovem respondeu “frequentemente” e “sempre” na edição de 2024 da pesquisa Carreira dos Sonhos, da Cia de Talentos. E nos últimos anos não foi muito diferente: tanto em 2023 quanto em 2022, mais da metade das pessoas mais novas que responderam o questionário indicaram sofrer desse mal.
Bem, mas até aqui, nada de novo, certo? Infelizmente, já temos familiaridade com as manchetes alertando sobre o grave problema de ansiedade entre as gerações mais recentes.
Contudo, me chamou a atenção um argumento apresentado pelo psicólogo social Jonathan Haidt em sessão do Fórum Econômico Mundial. O autor do livro “A Geração Ansiosa” destaca que os índices de ansiedade entre os jovens dispararam nos Estados Unidos e em outras partes do mundo porque, segundo ele, “super protegemos as crianças no mundo real e deixamos de protegê-las no ambiente online”.
Para ele, em vez de brincar com a sua turma, as crianças passam cada vez mais tempo dentro de casa, presas às telas. Nas palavras dele, “o distanciamento social começou tão logo elas ganharam seus smartphones”. Uma das consequências dessa falta de vínculos sociais seria o baixo desenvolvimento de mecanismos que ajudam a lidar com dificuldades e sentimentos na vida adulta, deixando os indivíduos mais propícios a fortes ondas de ansiedade.
Há quem considere a posição de Haidt radical e eu entendo. Então, não se preocupe: não farei um apelo para banir o celular ou as redes sociais. O meu foco, aqui, é refletir sobre como esse contexto influencia a forma como a juventude lida com os desafios profissionais e como nós podemos apoiá-la para que se sinta mais confiante e preparada.
Mais do que isso, fiquei pensando em como nos aproximar das pessoas pode impactar positivamente no combate a essa espécie de transtorno generalizado de ansiedade. Claro que não estou sugerindo que líderes e colegas de trabalho façam as vezes de terapeutas. A empresa não é um consultório, a cadeira de escritório não é um divã. O que eu gostaria de propor é que lembrássemos da importância das conexões sociais para além de interações superficiais ou meramente operacionais. Ter vínculos fortalecidos no trabalho também ajuda as pessoas a lidarem com situações de estresse, pressão e ansiedade.
Me refiro desde pequenos gestos que ajudam a criar laços, como conversas informais no café, até práticas estruturadas para a criação de um ambiente onde todo mundo sinta que pode compartilhar desafios sem medo de julgamento. Nesse cenário, é cultivada uma preocupação genuína com o bem-estar de colegas e isso faz toda a diferença.
Quando nos sentimos sós, fica mais difícil encontrar forças para lidar com certas situações. Às vezes, a sensação de ansiedade no trabalho pode estar relacionada ao fato de não encontrarmos apoio para desenvolver um projeto, faltar conhecimento técnico para atendermos a uma demanda, sermos inexperientes para resolver um problema.
Nessas horas, os laços entre as pessoas podem funcionar como uma rede de suporte silenciosa, mas poderosa. Um simples “vamos resolver isso juntos” ou a disposição para dividir aprendizados pode aliviar a pressão e dar segurança para que as pessoas encarem o desafio sem se sentirem sobrecarregadas. Esse senso de colaboração, além de fortalecer a confiança individual, cria um ambiente mais acolhedor, no qual pedir ajuda não é visto como fraqueza, mas como parte natural do processo de crescimento.
Portanto, minha recomendação é cultivar uma cultura de apoio mútuo e abertura ao diálogo e ela vale não só para a liderança, mas para profissionais em qualquer cargo. Trata-se de uma contribuição que todo mundo é capaz de dar.
No fim das contas, combater a ansiedade no trabalho não depende apenas de grandes iniciativas institucionais, mas das micro ações diárias que reforçam a sensação de pertencimento e bem-estar.
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