07 maio Como ajudar um funcionário com baixo rendimento?
Como ajudar um funcionário com baixo rendimento?
A psicóloga e colunista Mariana Clark orienta gestor sobre como lidar com uma profissional que está desengajada.
“Tenho reparado que uma das pessoas do meu time está rendendo pouco no trabalho. Já conversei com ela, e me parece que está tudo bem do ponto de vista emocional. Mesmo assim, percebi que o rendimento dela caiu porque ela sempre teve ótimas entregas e, recentemente, a qualidade do trabalho caiu. Ela acabou de completar quatro anos de empresa e penso que talvez esteja se se sentido desmotivada, já que as tarefas não são mais novidade para ela. Como ajudá-la a recuperar o rendimento no trabalho?” Gestor de projetos, 47 anos
Caro leitor,
Engajar e reter talentos é um dos maiores dilemas da liderança contemporânea. E não é só você que está com essa pulga atrás da orelha: segundo o relatório “State of the Global Workplace”, da Gallup, o engajamento dos funcionários segue em queda e, só em 2024, custou US$ 438 bilhões à economia global.
Mas esse é só o começo da fatura. A desmotivação crônica mina a colaboração, intoxica o ambiente, aumenta o absenteísmo, acelera o turnover e sufoca a inovação. O estrago é sistêmico. Em contrapartida, equipes engajadas se sentem corresponsáveis pelos resultados, propõem soluções, compartilham ideias e protegem a cultura da empresa – mesmo diante da inevitável pressão.
E é aí que a liderança se vê num cabo de guerra: de um lado, as metas cada vez mais exigentes; do outro, funcionários que esperam mais sentido, mais escuta e mais espaço para serem quem são.
Nesse contexto, sua atitude de abrir uma conversa foi certeira – e rara. Mostrar interesse genuíno já é metade do caminho. Mas, como você bem percebeu, engajar exige esforço contínuo; reconectar quem já se desconectou é ainda mais trabalhoso.
Uma segunda conversa pode – e deve – acontecer. E desta vez, não só com dados em mãos sobre a queda de performance. Experimente abrir espaço para um diálogo mais honesto, em que ela possa contar como enxerga a liderança, a empresa e até onde quer ir. Uma espécie de mentoria reversa: menos cobrança, mais escuta estratégica.
Tenho trabalho com empresas e líderes que reconhecem a importância de desenvolver competências para tornar suas decisões mais humanas e sustentáveis. Essa urgência é reforçada pelo próprio relatório da Gallup, que mostra como o engajamento está profundamente conectado à percepção de uma vida próspera.
O problema da sua liderada pode ser emocional (luto, esgotamento, desamparo) ou estrutural (falta de estímulo, de desafios ou de perspectiva). Ambas as dimensões importam. Ignorar uma ou outra é empurrar o problema para a frente, à espera de um colapso anunciado.
Ao criar esse espaço seguro de intimidade, muitos líderes se preocupam como responder a uma demanda desconhecida, para a qual não foram treinados ou não há uma resposta imediata, uma regra clara e estabelecida. Acolher um funcionário apático não exige manual, tampouco respostas prontas. Resgatar o propósito de alguém exige escuta, presença e regulação emocional.
As empresas que se destacam nos estudos da Gallup são aquelas que colocam as pessoas no centro. Isso passa por formar líderes preparados para conversas difíceis, capazes de revisar prioridades e moldar culturas mais empáticas e adaptáveis. Mesmo treinamentos simples já fazem diferença: o engajamento cresce, a performance melhora e a liderança amadurece. É exatamente isso que acontece nas capacitações, mentorias e rodas de conversa nas empresas dispostas a acolher as dores não reconhecidas pelas organizações e, muitas vezes, pela própria sociedade.
No fim das contas, resgatar o engajamento não é só uma missão individual, é um projeto coletivo. Se o mundo do trabalho fosse realmente engajado, a Gallup estima que a economia global poderia ganhar até US$ 9,6 trilhões em produtividade – o equivalente a 9% do PIB mundial.
Pessoas engajadas constroem empresas mais produtivas. Mas, para isso, precisam de líderes firmes e corajosos o suficiente para ouvir o que não gostariam – e fazer algo a respeito.
Mariana Clark é psicóloga, especialista em saúde mental, perdas e luto no contexto organizacional e escolar.
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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.
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