Desafios da mulher no mercado de trabalho: desigualdade de gênero e racismo persistem

Desafios da mulher no mercado de trabalho: desigualdade de gênero e racismo persistem

Publicado em 17 de março de 2025

Em seminário do MTE, especialistas discutem a disparidade salarial, a segregação ocupacional e a falta de proteção social enfrentada pelas mulheres, com destaque para as barreiras ainda presentes no Brasil e no mundo.

As mulheres enfrentam maiores dificuldades para progredir em suas carreiras, recebem salários inferiores aos dos homens em cargos equivalentes e têm menos proteção social, o que evidencia uma discriminação de gênero e dificulta sua saída da pobreza extrema. Esses temas foram debatidos no XVI Seminário da Rede de Observatórios do Mercado de Trabalho, realizado ontem (13), sob a coordenação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com transmissão online pelo YouTube e participação de especialistas da área. O evento discutiu o tema “Mulheres no Mercado de Trabalho”, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março.

A subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do MTE, Paula Montagner, coordenou o seminário e ressaltou a importância de retomar discussões sobre inclusão e igualdade salarial entre homens e mulheres.

Flávia Moura Rocha Parente Muniz, representante da ONU Mulheres no Brasil, apresentou dados globais sobre o tema. Segundo a ONU, apenas 63% das mulheres entre 25 e 54 anos estão empregadas, contra 91% dos homens. Nos países de baixa renda, 91% das mulheres trabalham na informalidade, sem proteção social ou direitos trabalhistas garantidos. No entanto, desde 1995, o número de países que adotaram leis contra a discriminação de gênero no ambiente de trabalho aumentou de 58 para 162. “Esses países já possuem algum tipo de legislação para combater a desigualdade de gênero”, destacou Flávia, acrescentando que, apesar dos avanços, as mudanças ainda são insuficientes.

Atualmente, cerca de 2 bilhões de meninas e mulheres no mundo não têm nenhuma proteção social e realizam, em média, 2,5 vezes mais trabalhos não remunerados do que os homens, principalmente em atividades de cuidado – chegando a até cinco vezes mais horas em algumas regiões. “Se as mulheres dedicam cinco horas a mais a tarefas de cuidado, que beneficiam toda a sociedade, isso gera uma desigualdade que impacta seu desenvolvimento e limita seu potencial”, alertou Flávia. Segundo a ONU, investimentos em políticas de cuidado poderiam gerar até 300 milhões de empregos até 2035, com 78% das vagas ocupadas por mulheres.

No Brasil, os desafios seguem a mesma tendência global. Entre 2012 e 2019, a participação feminina no mercado de trabalho subiu de 51,55% para 54,33%. No entanto, com a pandemia de COVID-19, essa taxa caiu para 52,7% em 2024. “A recuperação pós-pandemia tem sido lenta, e a participação feminina ainda não voltou aos níveis pré-pandêmicos”, afirmou Cristina Pereira Viecelli, economista do Dieese.

A desigualdade de gênero no mercado de trabalho se agrava quando se analisa a questão racial. Mulheres negras enfrentam taxas de desemprego e subutilização da força de trabalho mais altas. Em 2024, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a taxa de desocupação foi de 4,4% para homens brancos, 5,8% para mulheres brancas e 9,3% para mulheres negras.

As diferenças salariais também são evidentes: enquanto um homem branco recebe, em média, R$ 8.849,00, uma mulher negra ganha menos da metade desse valor (R$ 3.964,00), e uma mulher não negra recebe R$ 5.478,00. A maior desigualdade salarial ocorre em cargos de nível superior e funções de liderança. “Por isso, políticas de igualdade salarial são fundamentais para trazer mais transparência às empresas e reduzir essa prática discriminatória”, destacou Cristina.

Outro obstáculo enfrentado pelas mulheres é a segregação ocupacional. No Brasil, a presença feminina nas áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) ainda é baixa, tanto na educação quanto no mercado de trabalho. Mariana Eugênia de Almeida, analista técnica de Políticas Sociais do MTE, apresentou um estudo sobre essa questão.

Segundo a pesquisa, as mulheres estão concentradas em cursos superiores voltados para a área de cuidados e são minoria nas áreas STEM, com pouca evolução nos últimos 12 anos. Em 2010, elas representavam 29,2% dos formandos em carreiras STEM; em 2022, esse percentual subiu apenas para 30,3%. Já na área de cuidados – que inclui saúde, bem-estar, serviços domésticos e alimentação – as mulheres representavam 76,8% dos formandos em 2010, e esse número caiu levemente para 75,9% em 2022.

“Entre 2003 e 2021, todas as áreas registraram crescimento no emprego formal no Brasil. No entanto, o setor STEM cresceu menos e, para as mulheres, o crescimento foi ainda menor”, explicou Mariana. “Nas áreas de cuidados, elas estão mais presentes, com salários mais baixos, mas com maior estabilidade”, acrescentou.

A igualdade salarial e a inclusão são essenciais para garantir diversidade, melhores condições de trabalho e políticas públicas eficazes. Para que homens e mulheres tenham melhores condições de trabalho, é fundamental que seus filhos tenham acesso a creches e escolas e que familiares dependentes recebam cuidados adequados, seja em casa ou em instituições especializadas.

Assista ao debate aqui.   

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego
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