01 mar Desemprego menor esconde cenário de ocupação mais fraca
Desemprego menor esconde cenário de ocupação mais fraca
O ano de 2022 marcou uma surpreendente recuperação do mercado de trabalho. Após o forte baque sofrido durante a pandemia, a economia brasileira gerou vagas formais e informais em ritmo que surpreendeu todos os analistas, levando a taxa de desemprego média no ano a cair ao menor nível desde 2015. Ainda assim, o movimento continuou a perder força na margem, em mais um indício de que 2023 será um ano difícil.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta terça-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no país foi de 9,3% na média de 2022, ante 13,2% em 2021. Este é o menor nível desde 2015, quando ela caiu a 8,6%.
No quarto trimestre, a taxa de desemprego caiu a 7,9%, contra 8,7% do verificado no terceiro trimestre. Esse resultado veio em linha com a mediana das expectativas de 26 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, com intervalo das projeções variando de 7,8% a 8,5%.
Em 2022, o país teve uma média de 10 milhões de desempregados, queda de 28% frente aos 13,9 milhões de desempregados que o país teve na média de 2021.
A renda média dos trabalhadores avançou 1,9% no quarto trimestre de 2022, ante o trimestre anterior, para R$ 2.808. Essa recuperação da renda só apareceu em meados do ano. A média anual ficou em R$ 2.715, recuo de 1% frente à de 2021. A massa rendimentos real habitualmente recebida por pessoas ocupadas cresceu de novo, para R$ 274,3 bilhões no quarto trimestre móvel. O número representa uma alta de 2,1% frente ao terceiro trimestre e 12,8% ante o mesmo período de 2021.
A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, comemorou o resultado no ano e destacou a influência tanto do setor formal como do informal. “A gente pode dizer que o ano de 2022 é marcado por uma superação do pior momento vivido pelo mercado de trabalho em 2020”, afirmou.
A taxa de informalidade na economia caiu de 40,1% em 2021 para 39,6% em 2022.
O bom desempenho do mercado de trabalho no ano acaba mascarando o fato de que a dinâmica nos últimos meses é mais desafiadora. No quarto trimestre, a população ocupada avançou apenas 0,1%. Já no cálculo mensalizado feito pela XP Investimentos, o desemprego subiu de 8,3% em novembro para 8,5% em dezembro, feito o ajuste sazonal.
“A elevação resultou de uma contração da população ocupada, de 0,3%, combinada com virtual estabilidade da força de trabalho”, diz o comentário assinado pelo economista Rodolfo Margato. Ele ressalta que esta é a terceira variação negativa da população ocupada na comparação mensal após crescimento médio de 0,6% entre janeiro e setembro.
Para a gerente do IBGE, a estabilidade da população ocupada no período pode ser explicada por uma combinação de Black Friday, Copa do Mundo fora de época, endividamento e juros elevados, além da conjuntura econômica mais adversa.
No comércio, que tradicionalmente lidera as contratações por causa das festas de fim de ano, o contingente de trabalhadores apresentou recuo de 0,2% no trimestre móvel encerrado em dezembro, ante o período anterior.
Para o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) Daniel Duque, a redução da taxa de desemprego só foi possível pele queda na taxa de participação do mercado de trabalho. No quarto trimestre, ela ficou em 62,1%, ante 62,7% no trimestre anterior.
O Ibre projetava recuo ligeiramente maior da taxa de desemprego no último trimestre do ano, a 7,8%. “Dado que houve essa queda da participação, isso significa que a geração de empregos foi ainda menor do que a esperada”, nota Duque.
O pesquisador espera relativa estabilidade do mercado de trabalho em 2022, em linha com um crescimento esperado do PIB este ano, de cerca de 1%.
Na Genial Investimentos, a projeção é que a taxa de desemprego no quarto trimestre de 2023 suba a 8,9%. No entanto, existe um fator de risco para a estimativa por causa do pente-fino que o governo promove no Cadastro Único (CadÚnico), usado como base para a concessão do Bolsa Família. Estima-se que entre 2,5 milhões e 3 milhões de beneficiários possam estar irregulares.
“No quarto trimestre, o ponto de atenção foi a queda importante da taxa de participação, de 0,6 ponto percentual. É condizente com a estabilidade da população ocupada nos últimos dois trimestres contínuos, ao passo que a população caiu”, nota. Para ele, isso reflete o auxílio de R$ 600, “que acaba retirando pessoas do mercado de trabalho”.
Sorry, the comment form is closed at this time.