Empresas americanas adiam volta ao escritório e eventos presenciais

Empresas americanas adiam volta ao escritório e eventos presenciais

Publicado em 17 de dezembro de 2021

O mais recente surto de covid-19 impõe dificuldades às empresas em questões como segurança dos funcionários e alteração constante dos planos para trabalho no escritório, viagens a negócios e reuniões sociais após quase dois anos de pandemia.

Bem quando parecia que as empresas americanas tomavam o caminho da normalidade, uma nova onda de covid-19 enterra os planos de retorno aos escritórios, de Wall Street ao Vale do Silício.

As festas de fim de ano de Manhattan estão sendo canceladas e os bancos enfrentam novos surtos, diante da propagação da variante ômicron. O Citigroup disse que os funcionários da área metropolitana de Nova York poderão trabalhar de casa até o fim do período de festas, enquanto a empresa de fundos hedge Citadel emitiu orientação semelhante. O JP Morgan Chase mudou para on-line seu grande simpósio de assistência médica após grandes empresas de biotecnologia se negarem a participar presencialmente do evento.

A Apple e o Google, do Alphabet, adiaram indefinidamente suas datas de volta ao escritório.

O mais recente surto de covid-19 impõe dificuldades às empresas em questões como segurança dos funcionários e alteração constante dos planos para trabalho no escritório, viagens a negócios e reuniões sociais após quase dois anos de pandemia. Ao mesmo tempo, muitos americanos retomaram, em grande medida, as atividades normais na vida pessoal, desde comer fora até participar de grandes eventos, o que cria uma descompasso entre o que acontece no trabalho e em casa.

“É como o [filme] Feitiço do Tempo”, disse John Ho, copresidente do conselho da Agência de Segurança e Saúde Ocupacional dos EUA e do escritório de advocacia Cozen O’Connor. “Tínhamos clientes planejando trazer as pessoas de volta [aos escritórios] após o Ano Novo – há alguns que já decidiram adiar, em vista da ômicron e também do aumento dos números da covid por toda parte.”

Em Wall Street, os executivos dos bancos ansiavam por reocupar as torres de escritórios com trabalhadores. Mas Nova York enfrenta uma nova onda de infecções, com os modelos matemáticos dos centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), por exemplo, estimando que a ômicron pode responder por 13% dos novos casos de covid-19 na área e no Estado de Nova Jersey, que abriga Nova York. Na semana passada, o Jefferies Financial Group recomendou o retorno ao trabalho remoto após a empresa ter registrado aumento dos casos depois do feriado do Dia de Ação de Graças.

O Morgan Stanley também teve surtos recentes em seus escritórios de Nova York, segundo pessoas a par da situação. O banco exigiu a vacinação dos funcionários, mas não impôs o uso obrigatório de máscara. Porta-voz da empresa preferiu não comentar. Seu diretor executivo, James Gorman, causou polêmica no terceiro trimestre deste ano, ao censurar seus funcionários e argumentar que, se podiam a um restaurante, poderiam ir ao escritório. Mas agora Gorman mudou de tom. “Eu estava errado”, disse em entrevista à CNBC nesta semana. “Todo mundo ainda está mal e mal chegando lá e aí aparece a variante ômicron. Sabe-se lá se teremos pi, se teremos teta e epsílon e acabaremos esgotando as letras do alfabeto [grego]. A coisa continua a ser um problema.”

Um motivo possível para o erro de Gorman: os novos casos entre vacinados foram mais comuns do que o esperado durante a onda recente da variante delta, o que significa que as empresas que tornaram a vacinação obrigatória a seus funcionários não estavam tão protegidas como acreditavam.

No Barclays, algumas equipes engavetaram suas festas de fim de ano e a empresa observou um aumento no número de casos em seus escritórios em Nova York. Algumas reuniões de confraternização do Goldman Sachs Group foram adiadas, ao mesmo tempo em que novos casos têm surgido em vários escritórios no nordeste.

Os efeitos do último surto são sentidos de forma generalizada. As universidades Cornell e Princeton transferiram as provas finais para a internet e a Apple fechou temporariamente três lojas de varejo depois de surtos nos EUA e no Canadá. Os casos se estendem ao alto escalão: o CEO da Verizon Communications, Hans Vestberg, revelou na quarta-feira que testou positivo para o vírus e está em quarentena em casa, com sintomas leves.

Tudo isso aumenta a confusão para executivos e diretores de empresas que tentam adivinhar quais serão os melhores passos daqui para a frente, segundo Harry Kraemer, ex-executivo-chefe do setor de saúde que hoje leciona na Kellogg School of Management da Northwestern University.

No Vale do Silício, os transtornos provocam mais atrasos em uma volta ao normal que já é lenta para os gigantes da tecnologia, muitos dos quais adotaram a flexibilidade de forma permanente enquanto competem pelos trabalhadores mais em demanda. Na quarta-feira, a Apple mudou sua data de retorno ao escritório de 1º de fevereiro para um período “ainda a ser determinado” e seguiu o Google e a Uber Technologies em abrir mão de cronogramas formais.

O Google já marcou e remarcou as datas de retorno tantas vezes que os funcionários pararam de levá-las a sério. “Cada data meio que se torna uma piada”, disse Jeffrey Yaskin, líder de tecnologia da equipe de plataforma da web do Google Chrome, à revista “Fortune”.

Fonte: Valor Econômico
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