Empresas devem respeitar a ancestralidade

Empresas devem respeitar a ancestralidade

Publicado em 11 de abril de 2025
Por Vicky Bloch

A colunista Vicky Bloch escreve sobre a importância de olhar para o passado e as raízes da organização para crescer com solidez.

Tenho notado que, na corrida desenfreada por se reinventarem e se adaptarem às mudanças tecnológicas que surgem a cada momento, muitas organizações se esquecem de algo essencial: sua ancestralidade.

Não me refiro à ancestralidade como um olhar nostálgico para o passado, mas a um reconhecimento da identidade, da cultura, dos aprendizados e dos valores que atravessam gerações e que dão o DNA da cultura daquele grupo. Assim como indivíduos carregam consigo a herança de suas famílias, empresas também possuem um legado construído por aqueles que vieram antes. Esse legado não está apenas nos discursos institucionais, mas nas práticas de gestão, na cultura organizacional, na forma como as decisões são tomadas e as relações se constroem.

Quantas vezes vemos organizações tentando criar uma cultura do zero, ignorando sua trajetória? Ou lideranças que, na ânsia de inovar e responder às demandas de curto prazo, descartam aprendizados valiosos? Quando não respeitamos nossa ancestralidade, corremos o risco de perder referências importantes e de nos tornarmos frágeis diante dos desafios do presente e do futuro. Sem raízes, qualquer vento forte pode desestabilizar.

Preservar a herança cultural não significa resistir à mudança, mas sim compreender que a verdadeira inovação nasce da combinação entre o que já foi aprendido e o novo que está por vir. Empresas que respeitam sua ancestralidade fortalecem o senso de pertencimento de suas equipes, estabelecem relações mais autênticas e constroem uma identidade clara que orienta suas escolhas. Isso se traduz em colaboradores mais engajados e conectados com os princípios e propósitos da empresa, clientes mais fiéis e um impacto mais positivo na sociedade.

Nas sociedades, quando a ancestralidade não é respeitada, ocorre a perda de identidade cultural e da memória coletiva. Isso pode significar a extinção de práticas, linguagens e costumes – sem essas referências, indivíduos e grupos podem se sentir desorientados, sem um eixo para guiar ações e escolhas.

No ambiente corporativo, honrar a ancestralidade também significa reconhecer e dar continuidade ao legado de quem veio antes. Homenagear aqueles que construíram a história da empresa, por exemplo, é um sinal de respeito e de valorização. Mas não se trata apenas de celebrar o passado, e sim de dar continuidade ao que foi construído, garantindo que a cultura, a identidade e os valores da organização permaneçam vivos e sejam transmitidos às novas gerações.

Para muitas comunidades, a ancestralidade é o elo que conecta passado, presente e futuro. Para as pessoas negras, por exemplo, ela é a base do pertencimento, influenciando a autoestima, a criatividade e o resgate do protagonismo historicamente negado. Em um ambiente corporativo que valoriza essa perspectiva, há um fortalecimento da representatividade, da criatividade e da inovação, pois a diversidade de olhares enriquece as estratégias empresariais e impulsiona resultados sustentáveis.

As lideranças têm um papel essencial nesse processo. Além de preservar a história da instituição, precisam traduzir essa herança para o presente, assegurando que sua essência evolua sem se perder no tempo.

A pergunta que fica é: sua empresa conhece e valoriza sua ancestralidade? Se não, talvez seja o momento de olhar para trás com mais atenção. Porque é só respeitando suas raízes que uma organização pode crescer com solidez, propósito e impacto duradouro.

Fonte: Valor Econômico
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