Funcionárias da Microsoft são demitidas após protesto em evento de aniversário da companhia

Funcionárias da Microsoft são demitidas após protesto em evento de aniversário da companhia

Publicado em 9 de abril de 2025

Duas profissionais protestavam contra contrato da empresa com Israel durante comemoração de 50 anos da corporação.

A Microsoft demitiu duas funcionárias que interromperam a comemoração do 50º aniversário da companhia para protestar contra o fornecimento de tecnologia de inteligência artificial (IA) ao exército israelense. A informação foi dada nesta terça-feira por um grupo que representa os trabalhadores.

Em uma carta de demissão enviada na segunda-feira, a Microsoft acusou uma das trabalhadoras de má conduta “com o intuito de obter notoriedade e causar a máxima perturbação nesse evento tão aguardado”. A Microsoft diz que a outra funcionária já havia anunciado sua demissão, mas na segunda-feira ela foi instruída a sair cinco dias antes do previsto.

Os protestos começaram na sexta-feira, quando a engenheira de software da Microsoft Ibtihal Aboussad, caminhou em direção ao palco onde um executivo estava anunciando novos recursos de produtos e a visão de longo prazo da empresa para suas ambições em IA.

“Você afirma se importar em usar a IA para o bem, mas a Microsoft vende armas de IA para o exército israelense”, gritou Aboussad para o CEO de IA da Microsoft, Mustafa Suleyman. “Cinquenta mil pessoas morreram e a Microsoft alimenta esse genocídio em nossa região.”

O protesto forçou Suleyman a interromper sua fala enquanto ela era transmitida ao vivo do campus da Microsoft em Redmond, Washington. Entre os participantes do aniversário de 50 anos de fundação da Microsoft estavam o cofundador Bill Gates e o ex-CEO Steve Ballmer.

A Microsoft disse que Suleyman tentou acalmar a situação. “Obrigado por seu protesto. Eu entendo você”, disse ele. Aboussad continuou, gritando que Suleyman e “toda a Microsoft” tinham sangue nas mãos. Ela também jogou no palco um lenço keffiyeh – que se tornou um símbolo de apoio ao povo palestino -, antes de ser escoltada para fora do evento.

Uma segunda manifestante, a funcionária Vaniya Agrawal, interrompeu uma parte posterior do evento.

Aboussad, baseada na sede canadense da Microsoft em Toronto, foi convidada na segunda-feira para um telefonema com um representante da área de recursos humanos, no qual ela foi informada que seria demitida imediatamente, segundo o grupo ativista No Azure for Apartheid, que protestou contra a venda da plataforma de computação em nuvem Azure, da Microsoft, para Israel.

Uma investigação da “Associated Press” revelou no início deste ano que modelos de IA da Microsoft e OpenAI foram usados como parte de um programa militar israelense para selecionar alvos de bombardeios durante os conflitos recentes em Gaza e no Líbano. A reportagem também trazia detalhes sobre um ataque aéreo israelense malsucedido em 2023, que atingiu um veículo com membros de uma família libanesa, matando três meninas e a avó delas.

Na carta de demissão, a Microsoft disse a Aboussad que ela poderia ter manifestado suas preocupações confidencialmente para um gerente. Em vez disso, ela fez “acusações hostis, sem provocação e altamente inapropriadas” contra Suleyman e a companhia e que sua “conduta foi tão agressiva e perturbadora que você teve que ser escoltada para fora da sala pela segurança”.

Agrawal já tinha recebido aviso prévio de duas semanas e estava se preparando para deixar a companhia em 11 de abril, mas na segunda-feira um gerente enviou um e-mail dizendo que a Microsoft “decidiu tornar sua demissão imediatamente efetiva hoje”.

Esse foi o protesto mais público, mas não o primeiro relacionado ao trabalho da Microsoft com Israel. Em fevereiro, cinco funcionários da companhia foram retirados de uma reunião com o CEO Satya Nadella, por protestaram contra os contratos.

“Oferecemos diversos canais para que todas as vozes sejam ouvidas”, disse um comunicado emitido pela companhia na sexta-feira. “É importante que isso seja feito de maneira que não cause interrupção nas atividades da empresa. Caso isso ocorra, pedimos aos participantes que se retirem. Estamos empenhados em garantir que nossas práticas empresariais mantenham os mais altos padrões.”

A Microsoft não quis dizer na sexta-feira se tomaria outras medidas, mas Aboussad e Agrawal já esperavam por isso, depois que ambas perderam o acesso às suas contas de trabalho pouco após o protesto.

Dezenas de funcionários do Google foram demitidos no ano passado após protestos internos contra um contrato que a empresa também mantém com o governo israelense. Ocupações organizadas por funcionários nos escritórios da companhia em Nova York e Sunnyvale, na Califórnia, tinham como alvo um acordo de US$ 1,2 bilhão conhecido como “Projeto Nimbus”, que prevê o fornecimento de tecnologia de IA para o governo de Israel.

Posteriormente, os funcionários do Google entraram com uma queixa no Conselho Nacional de Relações do Trabalho, numa tentativa de recuperar seus empregos.

Fonte: Valor Econômico
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