05 maio Geração Z encabeça movimento da volta ao presencial
Geração Z encabeça movimento da volta ao presencial
Dados mostram que funcionários jovens — mais do que os baby boomers — querem a conexão e a rotina do trabalho presencial.
Rosie Labbett é uma grande entusiasta do trabalho presencial. Aos 21 anos, ela trabalha no setor de alimentação e considera inestimáveis os momentos de conversa antes das reuniões — algo totalmente diferente de apenas se conectar em teleconferências pelo Teams. “As ideias e as criatividade desabrocham”, diz. “Relações pessoais são muito importantes […] Mais pessoas deveriam ver o valor de se conectar com os outros no mundo real”.
À contramão de alguns estereótipos, a geração Z (os nascidos entre 1997 e 2012) encabeça o movimento de volta ao presencial, enquanto gerações mais velhas se mostram mais relutantes em retornar aos padrões passados nos escritórios. Pessoas com menos de 24 anos têm mais probabilidades de trabalhar no presencial do que seus colegas mais velhos, segundo uma pesquisa da firma imobiliária JLL: comparecem aos escritórios, em média, 3,1 dias por semana, enquanto as outras faixas etárias, entre 2,5 e 2,7 dias.
O retorno obrigatório aos escritórios vem sendo justificado, em parte, pela necessidade de os jovens adquirirem experiência presencial. Alguns comentários do executivo-chefe do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, sobre o trabalho remoto vazaram neste ano. “Isso está prejudicando a geração jovem”, disse. “Eles estão sendo deixados para trás socialmente, [nas] ideias, [em] conhecer pessoas.” Outros líderes também demonstraram a preocupação de que o modelo de aprendizagem tradicional, o de aprender ouvindo, esteja se deteriorando por culpa do trabalho remoto.
Diferenças geracionais podem criar desafios para os gestores, que precisam equilibrar as demandas de flexibilidade dos trabalhadores mais velhos, que já criaram suas redes de contato e têm mais responsabilidades familiares, com o desejo dos mais jovens de aprender e conhecer colegas. Isso coloca em evidência algumas das dificuldades enfrentadas por uma geração que passou parte da escolaridade em lockdowns.
Bryan Berthold, líder global de experiência de local de trabalho da firma de serviços imobiliários Cushman & Wakefield, diz que o diferente grau de comparecimento no escritório entre os trabalhadores mais velhos e os mais jovens pode resultar em uma menor satisfação dos funcionários iniciantes.
Lucy Blitz, uma produtora de conteúdo de 22 anos da agência de marketing esportivo Two Circles, acha mais fácil construir relacionamentos pessoalmente: “De fato, poder falar cara a cara com colegas e gestores, quando há algum problema, é muito mais fácil do que se comunicar pelo Slack, que eu não suporto.”
Uma funcionária de 23 anos da área de finanças, que preferiu permanecer anônima, diz que a ausência de gestores mais velhos faz com que ir ao escritório pareça inútil. “Por que eu, enquanto jovem com dívidas estudantis, deveria dar adeus a cerca de um quarto do meu salário apenas com trens e cafés ocasionais?”
Johnnie Dowd, analista de estratégia de 22 anos na firma de investimentos imobiliários British Land, diz que um dos motivos para trabalhar no escritório é o fato de morar em um apartamento pequeno, onde a mesa da cozinha serve de escrivaninha. “Não está na altura certa, e acabo me curvando sobre o laptop, sendo que posso ir ao escritório, ter uma mesa enorme, com todos esses monitores e uma temperatura realmente bem regulada.” Dowd diz querer “interagir e ser social […] ficar sentado em casa em chamadas de Zoom não é o que imagino para minha faixa dos 20 anos”,
As necessidades desses trabalhadores mais jovens vêm levando alguns empregadores a surgir com respostas criativas, segundo o executivo-chefe da firma de consultoria Work Forward, Brian Elliott. Ele conhece empresas que passaram a contratar funcionários iniciantes e a concentrá-los em menos locais “para formar grupos maiores […] para que tenham mais conexão social [e] apoio”. Uma empresa lançou um programa em que gestores estabelecem “dias-âncora” de comparecimento ao escritório, com pelo menos uma hora por dia aberta para os funcionários fazerem perguntas.
O mais comum, porém, é a obrigatoriedade da presença no escritório para todos os funcionários durante a semana inteira ou parte dela.
De acordo com Elliott, os líderes estão “preocupados com o desenvolvimento profissional dos trabalhadores mais jovens se eles não tiverem tempo suficiente com gestores e mentores”. “Isso é compreensível.” No entanto, ele acredita que apenas elevar a frequência no escritório não é garantia de que os jovens terão mais tempo com os gestores. “Muitas vezes, os próprios gestores têm pouco treinamento, e nos últimos anos as empresas reduziram camadas de gestão para aumentar a “amplitude de controle” – de 6 a 8 [subordinados por gestor] para 10 a 16. As chances de os funcionários iniciantes receberem um volume grande feedback prático não aumentam, se o gestor tem o dobro de subordinados e ainda mantém a própria carga de trabalho.” Berthold diz que a obrigatoriedade do presencial pode fazer os jovens sentirem que os gestores não confiam neles. “A porteira já foi aberta — é como ir do ensino médio para a universidade, ninguém [mais] fica te monitorando. A obrigatoriedade é como voltar para o ensino médio. É difícil construir confiança [assim].”
Embora os jovens sejam mais entusiastas do presencial, pesquisas indicam que também valorizam a flexibilidade. O relatório da JLL, que entrevistou mais de 12 mil funcionários de diferentes setores e países, constatou que os trabalhadores mais jovens gostariam de trabalhar presencialmente 2,6 dias por semana — menos do que passam atualmente no escritório, mas mais do que os trabalhadores de 35 a 44 anos, que preferem apenas 2,1 dias. O estudo também mostrou que trabalhadores com menos de 34 anos priorizam o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, enquanto os maiores de 55 anos são mais “sensíveis a condições físicas como temperatura, ruído e qualidade do ar”.
Uma pesquisa da Deloitte apontou que 26% da geração Z se sente mais engajada e conectada à organização quando há uma exigência ao menos parcial de trabalho presencial, mas 18% acredita que a obrigatoriedade reduziu sua produtividade. Outros 21% disseram que a obrigação de trabalhar presencialmente teve impacto negativo em suas finanças.
Mesmo a entusiasta do escritório Labbett gosta de trabalhar de casa em alguns dias: ela vai ao escritório quatro dias por semana. Um modelo híbrido “incentiva uma relação de confiança entre empregador e empregado”, diz, mas “quando essa confiança é mal utilizada”, a situação pode ficar difícil.
Heejung Chung, professora de trabalho e emprego no King’s College London, diz que os empregadores precisam pensar em como as diferentes gerações devem trabalhar juntas no escritório, e não apenas insistir em seu comparecimento. Os gestores precisam melhorar na organização de oficinas, de sessões de mentoria e de discussões de ideias em grupo, caso contrário, o tempo no escritório será gasto em “participar de reuniões de Zoom”. Criar momentos sociais ajuda os jovens a “se sentirem incorporados à empresa”, diz Chung.
Contrariando os estereótipos de preguiça no trabalho e os memes encorajando a “renúncia silenciosa”, Mark Dixon, fundador e executivo-chefe da empresa de espaço em escritórios IWG, diz que a geração Z “não só cresce rapidamente como uma faixa demográfica de influência substancial, mas também é incrivelmente trabalhadora” e “espera um equilíbrio saudável entre suas vidas profissionais e interesses pessoais”.
O interesse em entender o local de trabalho nos empregos administrativos também explica o aumento de conteúdo relacionado à vida de escritório nas plataformas de relacionamento social on-line.
Jemima Grace, consultora de riscos, é uma das muitas profissionais da geração Z que fazem vídeos no TikTok sobre a vida empresarial. Seus vídeos mostram que roupas usar no escritório, como se preparar para eventos nos quais se pode conhecer contatos profissionais e rotinas matinais de do tipo “se arrume junto comigo” para determinadas ocasiões.
Recentemente, Grace publicou um vídeo mostrando “um dia na vida” de #corporategirlies (garotas em empresas). Registrou a ida ao metrô às 7h20, a chegada ao escritório às 8h15, a resposta a mensagens do Teams, o almoço na mesa de trabalho, a leitura de propostas, a criação de uma apresentação e a saída do trabalho às 18h. O vídeo foi visto 4 milhões de vezes e teve 180 mil curtidas — muito acima da média de seu conteúdo habitual.
Grace acredita que essas publicações ajudam a geração Z a navegar melhor no ambiente de trabalho. “Os jovens pensam: ‘Que raios devo fazer?’ As pessoas no TikTok são mais jovens, e não sabem como é [a rotina no escritório].”
Ela ficou surpresa, contudo, com algumas das reações. Houve “muitos comentários dizendo: ‘Graças a Deus, não faço isso’. Outros disseram que eu parecia ‘infeliz’.”
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