Inteligência artificial deve causar onda de desemprego, diz estudo

Inteligência artificial deve causar onda de desemprego, diz estudo

Publicado em 12 de julho de 2023

Documento da organização aponta que os empregos considerados de maior risco de serem substituídos por sistemas de IA representam cerca de 27% de todas as vagas do mundo.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirmou ontem que a adoção em massa da inteligência artificial (IA) generativa no local de trabalho desencadeará uma onda de perda de empregos e levantará uma série de questões éticas, na medida em que as economias mais desenvolvidas se preparam para a turbulência em seus mercados de trabalho.

Mais de 25% dos empregos nos países da organização requerem habilidades que poderiam ser facilmente automatizadas na revolução da IA, destacou o órgão no estudo Employment Outlook de 2023. O relatório acrescenta que muitos trabalhadores já temem perder seus empregos para a IA.

O rápido desenvolvimento da IA generativa, que é capaz de realizar trabalhos escritos complexos a um custo cada vez mais baixo, combinado com a facilidade de adoção dessas novas tecnologias “sugere que as economias da OCDE podem estar à beira de uma revolução da IA ??que pode mudar fundamentalmente o local de trabalho”, diz o relatório.

A OCDE — um bloco de 38 membros que inclui principalmente nações ricas, mas também algumas economias emergentes como o México e a Estônia — é a mais recente organização econômica a alertar sobre o impacto perturbador de tecnologias como o ChatGPT, afirmando em seu relatório de emprego que os benefícios potenciais, como maior satisfação no trabalho e ganhos de produtividade, devem ser ponderados em relação aos efeitos negativos da automação.

Stefano Scarpetta, diretor de emprego, trabalho e assuntos sociais da OCDE, disse que, apesar do impacto limitado da IA generativa no mercado de trabalho até agora, é “claro que o potencial de substituição continua significativo, aumentando os temores de redução de salários e perda de empregos”.

As ocupações de maior risco estão em áreas como finanças, medicina e direito — hoje empregos de colarinho-branco altamente qualificados, que representam cerca de 27% do emprego nas economias dos membros da OCDE.

A participação é ainda maior em países-membros como Itália, Alemanha e França e menor no Reino Unido e nos EUA. Os países do Leste Europeu estão mais expostos ao risco representado pela IA.

Outros economistas observaram que a tecnologia provavelmente estimulará o crescimento. O Goldman Sachs disse no início deste ano que os ganhos de produtividade vinculados à adoção da IA generativa poderiam aumentar a produção global em 7% em 10 anos. No entanto, o banco de investimento também alertou que a tecnologia pode prejudicar 300 milhões de empregos.

Scarpetta também alertou que o uso de IA de modo mais generalizado também “apresenta sérios desafios éticos em relação à proteção de dados e privacidade, transparência e explicabilidade, preconceito e discriminação, tomada de decisão automática e responsabilidade”.

Até agora, há poucas evidências de que o surgimento da IA tenha tido grande impacto nos empregos, mas isso provavelmente se dever ao fato de a revolução ainda estar em seus estágios iniciais, afirma a OCDE.

Os trabalhos de maior risco foram definidos como aqueles que requerem mais de 25 das 100 habilidades e talentos considerados de fácil automatização pelos especialistas em IA.

Por sua vez, três em cada cinco trabalhadores temem perder o emprego para a IA nos próximos dez anos, constatou a OCDE em uma pesquisa em 2022. A pesquisa incluiu 5,3 mil trabalhadores de 2 mil empresas, abrangendo os setores de indústria e finanças em sete países da OCDE.

A pesquisa foi realizada antes do surgimento e crescimento explosivo do uso de ferramentas de IA generativa como o ChatGPT.

Aumento dos salários

Apesar da ansiedade com o advento dessa tecnologia, dois terços dos trabalhadores já trabalhando com IA disseram que a automação tornou seus trabalhos menos perigosos ou tediosos.

“A forma como a IA afetará os trabalhadores no local de trabalho e se os benefícios superarão os riscos dependerá das ações políticas que tomarmos”, disse o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, em entrevista coletiva.

“Os governos precisam ajudar os trabalhadores a se prepararem para as mudanças e se beneficiarem das oportunidades que a IA trará”, acrescentou.

Salários mínimos e a negociação de contratos coletivos de trabalho podem ajudar a aliviar possíveis pressões da IA sobre a remuneração, enquanto governos e autoridades reguladoras precisam garantir que os direitos dos trabalhadores não sejam comprometidos, segundo a OCDE.

Fonte: Valor Econômico
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