06 dez Mulheres são maioria nos escritórios de advocacia, mas minoria entre sócios
Mulheres são maioria nos escritórios de advocacia, mas minoria entre sócios
As mulheres são 57% nos escritórios, mas representam apenas 34,4% dos sócios de capital.
Apesar de serem maioria na composição de escritórios de advocacia, as mulheres são minoria na ponta final da carreira: os sócios de capital. A participação segue a mesma desde 2017, quando começou a ser realizada a pesquisa “Diversidade na Advocacia”, pelo Women In Law Mentoring Brasil. Para as mulheres negras a situação é ainda pior.
Dados da pesquisa, realizada com 82 escritórios, mostram que nas sociedades que realizam mapeamento racial – não são todas – apenas 11,3% do quadro total de advogados são pessoas negras. A representatividade cai conforme avançam na hierarquia dos escritórios: são 18% dos estagiários, mas apenas 2,7% dos sócios de capital.
A íntegra da última edição da pesquisa, à qual o Valor teve acesso, será publicada na noite de hoje. Os dados ainda mostram que, em quase todas as modalidades de contratação, o percentual de mulheres negras é superior ao de homens negros, exceto para o formato “sem contrato” e “sócio de capital”, em que há menos mulheres. De acordo com a pesquisa, isso mostra que a desigualdade é ainda mais marcante na interseccionalidade entre raça (negra) e gênero (feminino).
Sem o recorte racial, as mulheres são a maioria nos escritórios (57%), mas representam apenas 34,4% dos sócios de capital. Pela primeira vez desde a primeira edição da pesquisa, o número de advogadas em cargos de liderança (inclui cargos de coordenação e gestão) equiparou-se com o de advogados, com pequena diferença de 0,4% a favor delas.
Mas a pesquisa pondera que a análise dos dados indica que elas ainda ocupam, na maior parte das vezes, posições de liderança intermediárias, enquanto os homens ainda são a maioria expressiva dos sócios de capital. O índice de mulheres sócias de capital ficou praticamente estável desde a pesquisa de 2017.
Segundo Raquel Stein, uma das fundadoras da Women In Law Mentoring Brasil e sócia do escritório Souto Correa, como a diversidade é quase etérea, é importante ter os dados para ligar à realidade. “Quando as pessoas olham a sua volta, olham redes sociais, pode parecer que está tudo bem, mas quando olhamos os dados vemos que não evoluiu o número de mulheres em sociedade de capital e quando vemos o número de pessoas negras, é aterrador”, afirma.
Em relação ao perfil racial, a pesquisa considera os números “desanimadores”: apenas 4,6% das lideranças são negras, enquanto 91% dos líderes são pessoas brancas e outros 3,7% são de outras etnias. Em relação aos sócios de capital, apenas 0,9% é composto por mulheres negras e 1,8% de homens negros.
Em relação a promoções, em 2022 o número de mulheres advogadas promovidas a sócias de capital foi superior ao de homens (54% e 46%, respectivamente). Mas essa realidade se aplica somente a pessoas brancas, segundo a pesquisa, já que o percentual de mulheres negras no total de promoções de escritórios que fazem mapeamento racial foi de apenas 2,8%.
Os indicadores relacionados a gênero têm apresentado melhora em comparação com as pesquisas realizadas em 2018 e 2017, nas quais as mulheres representavam 42,7% e 39,5% das promoções a sócias de capital, respectivamente. Mas o mesmo não aconteceu na questão racial.
“Quando a gente diz que já chegou lá, que não tem mais machismo, a pesquisa mostra que não é bem assim. E quando falamos que não tem racismo a pesquisa também indica que muito pelo contrário”, afirma Stein.
Base de dados
A pesquisa escolhe os escritórios que são líderes em alguns mercados, segundo Stein, e mostra muitos homens brancos e poucas pessoas negras. “Hoje 60% da advocacia são mulheres, (a pesquisa) mostra que elas não estão chegando no topo”, afirma.
A advogada afirma que a pesquisa foi submetida a 500 escritórios de advocacia e 82 responderam. Essa é a terceira edição da pesquisa, que convidou para participar os escritórios listados no ranking do Chambers & Partners e Análise Advocacia, em algumas áreas, listados pelas práticas nas Regiões Sul e Sudeste, ou com atuação nacional.
Os 82 escritórios de advocacia que participaram têm unidades espalhadas em 14 Estados, somando 9.690 advogados em 2022. O número representa um aumento de 49% em comparação ao número de participantes da pesquisa de 2018 (55 escritórios). A maior parte (44%) são escritórios de até 50 colaboradores (advogados ou não). Também houve maior participação de escritórios com unidades em São Paulo (33%) e no Rio de Janeiro (18%).
Dos escritórios, 67% realizam mapeamento do perfil racial de colaboradores e 44% também fazem para profissionais de outros gêneros além da classificação binária (homem ou mulher). Em relação a políticas de diversidade, 59,8% dos escritórios declaram ter iniciativas ligadas a igualdade de gênero, 51,2% a questões raciais, 50% para o público LGBTQI+, e 37,8% para pessoas com deficiência.
Os dados foram coletados por meio de uma pesquisa online realizada em junho e julho de 2023 (dados solicitados relativos aos anos de 2021 e 2022) com os responsáveis pela gestão dos escritórios (foi registrada apenas uma resposta por escritório).
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