19 mar Problemas com o chefe estão entre as principais causas de burnout, diz pesquisa
Problemas com o chefe estão entre as principais causas de burnout, diz pesquisa
Estudo exclusivo com 208 empresas no Brasil indica outras causas de esgotamento profissional, como a falta de autonomia nos expedientes.
Os conflitos com as lideranças são o segundo principal gatilho para situações de burnout no ambiente de trabalho. Com 39% de participação, só perdem para o excesso de demandas (42%) e aparecem antes da falta de autonomia para conduzir tarefas (13%).
Os dados são de uma nova pesquisa realizada pela consultoria Mercer Marsh Benefícios, gestora de programas de saúde e qualidade de vida, que ouviu profissionais de 208 empresas nacionais e multinacionais de 29 setores, como TI e logística, em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Paraná – a maioria (76%) emprega mais de 500 funcionários.
O levantamento, obtido com exclusividade pelo Valor, foi concluído no terceiro trimestre de 2024. Do total de respondentes, 42% estão em cargos de gerência ou acima.
Apesar do índice de monitoramento das situações de afastamento do trabalho por questões de saúde mental ou relacionadas à suspeita de burnout ser baixo – 37% das companhias avaliadas realizam o acompanhamento, segundo a enquete – o número de empregadores envolvidos com alguma ação de prevenção ultrapassa os 70%.
“São empresas que incentivam a prática de exercícios [71% do total], promovem uma cultura organizacional voltada para a empatia e comunicação não violenta [70%], realizam capacitação das lideranças [66%], criam canais de atendimento psicológico [66%] e ações que valorizam o trabalho dos funcionários [48%]”, detalha Luiz Bezerra, consultor sênior da Mercer Marsh Benefícios.
Nova regra
Nesse contexto, o especialista lembra que a atualização da Norma Regulamentadora 1 (NR-01), do Ministério do Trabalho, será um desafio a ser enfrentado pelas organizações na fase de implantação. “Mas, se gerida de perto pelos gestores, tende a oferecer resultados promissores, com impactos positivos na saúde coletiva”, pondera.
Com a regra, a partir de 26 de maio, as empresas deverão observar novas condutas para estabelecer um gerenciamento de riscos ocupacionais, com destaque para a identificação e tratamento de problemas psicossociais. Em resumo, o plano deve contemplar eventuais fatores de risco para o surgimento de patologias psicossomáticas e estruturar mecanismos para a mitigação ou redução dessas contingências.
“Como parte do gerenciamento de riscos, é essencial criar um ambiente que favoreça a comunicação aberta, o respeito e a inclusão, ajudando a reduzir o estresse e a ansiedade entre os colaboradores; além de implementar programas de suporte psicológico, que auxiliem os funcionários a lidar com questões pessoais e profissionais, prevenindo problemas mais sérios”, afirma Bezerra.
Afastamento do trabalho
A Mercer Marsh Benefícios também finalizou um estudo baseado em atestados médicos, selecionados por amostragem aleatória – a consultoria administra programas empresariais de benefícios para 4,8 milhões de trabalhadores no Brasil.
A investigação, baseada em 185 mil atestados expedidos entre 2022 e 2024, aponta que as doenças oncológicas ocupam a primeira posição na lista que indica o tempo médio dos afastamentos, com 37,4 dias; enquanto as questões de saúde mental estão no segundo lugar, com 8,1 dias.
Já no ranking que mede a quantidade de atestados distribuídos por grupos de patologias, o primeiro posto é o das doenças osteomusculares (que afetam ossos, músculos, tendões, ligamentos e articulações), com 17,3% do total; antes dos males respiratórios, como gripe, rinite, Covid-19 e asma (15,2%).
Diante do resultado dos estudos, a recomendação é integrar nas empresas as áreas de apoio aos profissionais, usar dados para criar e reforçar novas políticas de cuidado, sem esquecer de envolver as lideranças nas decisões, alerta o consultor.
“O setor de recursos humanos deve se aproximar mais dos serviços de saúde e de segurança do trabalho”, aconselha Bezerra, que destaca que apenas 14% das companhias utilizam a área de saúde ocupacional como “estratégia de negócio”.
Nesse cenário de afastamentos e adoecimentos, os serviços de saúde e de segurança do trabalho exercem um papel fundamental para o bem-estar dos profissionais e devem ser melhor assistidos pelas empresas, com a contratação de pessoal qualificado e de sistemas de informação inteligentes, sugere.
As decisões sobre saúde ocupacional também devem ser discutidas pela alta cúpula e inseridas nos planos de negócios das companhias, continua o executivo, que chama a atenção para um melhor acompanhamento e resposta dos registros sobre saúde e bem-estar. “[É importante] implementar um gerenciamento das informações sobre os afastamentos dos empregados”, conclui.
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