Registros de diferenças salariais entre gêneros passam a ser responsabilidade do RH

Registros de diferenças salariais entre gêneros passam a ser responsabilidade do RH

Publicado em 24 de abril de 2025

Tarefa era antes atribuída a executivos-chefes; mudança faz com que haja mais equilíbrio entre homens e mulheres e reflete papel estratégico da área de recursos humanos. Entenda.

A diferença na remuneração entre homens e mulheres tem diminuído aos poucos no Reino Unido desde que as empresas começaram a documentá-la em 2017. Ainda assim, a forma como os dados são compilados também conta uma história reveladora sobre o equilíbrio de gênero nas empresas.

Em 2025, pela primeira vez, deixou de existir desigualdade de gênero entre os profissionais que registram os dados da própria desigualdade de gênero. Depois de vários anos em que a maioria dos responsáveis por aprovar os dados era de homens, agora as mulheres têm a mesma probabilidade de assinarem as apresentações oficiais sobre o tema.

A tendência rumo a um equilíbrio de gênero nessa tarefa é impulsionada pelo fato de mais profissionais de recursos humanos (que têm mais chances de serem mulheres) estarem se encarregando dos dados, cuja compilação antes ficava sob responsabilidade de profissionais em cargos mais altos, segundo uma análise do “Financial Times”.

Isso, contudo, não se deu porque as empresas passaram a dar menos importância à igualdade salarial, de acordo com analistas do mercado de trabalho. Em vez disso, eles dizem que mudança reflete o papel cada vez mais estratégico dos profissionais de recursos humanos em áreas como remuneração e planejamento da força de trabalho.

Em 2017, o primeiro ano da obrigatoriedade da divulgação da diferença salarial de gênero, a pessoa normalmente indicada como responsável por aprovar os dados era uma liderança de alto escalão, como o executivo-chefe, um membro do conselho de administração ou outro diretor.

Em 2024, os profissionais de recursos humanos passaram a ser os mais comuns nesse papel. Mais de 40% dos empregadores atribuíram aos profissionais de recursos humanos a tarefa de aprovar os dados da diferença salarial divulgados, em comparação com cerca de 30% em 2017.

A análise do “FT” constatou que 70% desses profissionais de recursos humanos tinham nomes próprios femininos, em comparação com 20% dos executivos-chefes. Em grande parte, como resultado disso, as mulheres agora representam quase exatamente metade de todas as “pessoas responsáveis” pela apresentação dos dados sobre as diferenças salariais.

Marks and Spencer (M&S), Nando’s e AstraZeneca estão entre as grandes empresas que mudaram a pessoa responsável, que antes era o executivo-chefe e agora passou a ser alguma figura de alto escalação de recursos humanos. A M&S diz ter foco “em oferecer um ótimo lugar para se trabalhar” e que metade de seu conselho de administração e da liderança de alto escalão é formada por mulheres. Nando’s e AstraZeneca não quiseram comentar as informações.

“Os cálculos da diferença salarial exigem um entendimento profundo das regulamentações e dados alta qualidade sobre o pessoal”, diz Andrew Curcio, sócio da equipe de remuneração e benefícios da PwC. “Esse trabalho se encaixa naturalmente nas equipes mais próximas a isso – as funções ligadas à remuneração e às pessoas de uma organização.”

Isso também é um sinal de que a divulgação da diferença salarial se consolidou. De início, os empregadores podem ter incluído os nomes de líderes de alto escalão para mostrar que estavam levando o assunto a sério, segundo Tom Heys, líder da área de divulgação salarial da banca de advocacia Lewis Silkin. “Mas com o passar do tempo, eles simplesmente atribuíram isso para a pessoa que de fato pode dar as respostas a quaisquer preguntas que as pessoas possam ter.”

Essa mudança acompanha a tendência mais ampla da função de recursos humanos, tradicionalmente dominada por mulheres, de ganhar um papel mais central nos negócios, trabalhando de perto com equipes de risco, análise e tecnologia, segundo Daniel Imbeault, diretor sênior da firma de consultoria Mercer. As organizações estão cada vez mais “colocando o RH entre os executivos de alto escalão, e não em uma camada abaixo”, acrescenta. “É um ótimo momento para estar no RH.”

Isso representou um impulso para as mulheres em algumas empresas. Em 2023, cerca de 65% dos profissionais de recursos humanos no Reino Unido e Irlanda eram mulheres, de acordo com o Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD), uma associação de profissionais de recursos humanos.

As empresas em que a área de recursos humanos supervisiona os dados da diferença salarial relataram desequilíbrios um pouco menores: mulheres nesses empregadores ganharam 92 pence para cada 1 libra recebida por homens – 2 pence a mais do nas empresas em que o executivo-chefe ou o conselho de administração são responsáveis pelos dados. No entanto, o grau de queda na diferença salarial foi similar em ambos os grupos.

O “FT” analisou nomes e cargos das pessoas responsáveis em mais de 68 mil apresentações de dados ao serviço do governo sobre a diferença salarial entre 2017 e 2024. Os cargos de recursos humanos incluíam palavras-chave sobre funções relacionadas a pessoas, remuneração, talentos e assuntos de diversidade, equidade e inclusão (DEI).

O gênero foi definido com base nos primeiros nomes, a partir de um banco de dados acadêmico.

Fonte: Valor Econômico
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