21 mar Um novo dilema: tiro ou ainda fico de máscara no trabalho?
Um novo dilema: tiro ou ainda fico de máscara no trabalho?
A colunista Stela Campos escreve sobre a liberação do uso do acessório e como a medida pode impactar o convívio com os colegas de escritório.
Agora que o uso obrigatório de máscara em lugares fechados caiu em estados como São Paulo e Rio de Janeiro, onde ficam boa parte dos escritórios de grandes empresas do país, a polêmica em torno dos que querem continuar usando e aqueles que estão adorando se livrar desse artefato tende a se acirrar.
Se a empresa liberou a entrada sem máscara (e legalmente ela pode escolher o que fazer), mas o funcionário se sente mais seguro com ela, ninguém vai se opor a sua utilização abertamente. Existe, porém, um certo constrangimento e desconforto no convívio entre colegas pró e contra o uso da máscara. Vários depoimentos em redes sociais mostram o quanto a situação se tornou incômoda para muitos profissionais. Um deles desabafou: “Antes não sabia o que fazer com quem sentava do meu lado sem máscara, agora pelo menos sei que não posso fazer nada.”
E esta situação não deve se resolver tão rápido. Foram dois anos para nos acostumarmos a incluir a máscara na nossa rotina. As empresas podem pautar suas decisões sobre a continuidade do uso, mesmo depois da liberação oficial, baseando-se no percentual de funcionários imunizados. Isso aconteceu em muitas companhias nos Estados Unidos. Mas seja qual for a decisão, é um momento delicado entre colegas no ambiente de trabalho.
Trabalhar o dia todo de máscara incomoda, disso ninguém discorda. O elástico pode machucar um pouco o rosto e dependendo do modelo escolhido cansa respirar por meio dela durante o expediente. Mas a segurança de saber que trata-se de um protocolo de segurança sanitário eficaz, depois de tanta contaminação e morte por conta da pandemia, faz muitos persistirem na ideia de que é importante usar e pronto. Já vimos que há sempre uma nova variante à nossa espreita.
Quando fui para o Japão em 2017 e vi pela primeira vez as pessoas usando máscara no metrô muito antes da pandemia, lembro que achei aquilo bem estranho. Depois, pensei o quanto os japoneses silenciosos eram civilizados de não deixar o vírus da gripe passar para todo mundo no transporte público. Tive um pouco de inveja deles na época e comprei um pacotinho para trazer para o Brasil. Mal sabia que aqui seríamos depois obrigados a usá-las no transporte público por conta da covid.
Na pandemia, achei a caixinha de máscaras japonesa perdida no armário e acabei fazendo um bom uso dela. Eram aquelas cirúrgicas, de papel, azuis por fora e brancas por dentro, com três camadas de proteção.
O tipo de máscara que você escolhe para ir ao escritório já vem gerando um olhar meio desconfiado faz tempo. Se você não adquiriu uma mais “profissa”, tipo N95, NK95, FFP2 ou FFP3, que foram recomendadas quando a pandemia se intensificou, é porque talvez você seja desencanado demais. E, se você usa, porque acha que ela é mais adequada e segura, pode parecer exagerado ou encanado demais. E ainda existe a competição pela máscara mais descolada de pano, que virou um novo acessório de moda.
A máscara, no entanto, ainda é menos esquisita que o tal “face shield”, aquele protetor que algumas vendedoras de TV insistem em usar em comerciais de móveis e carros. Mas no self service, que começa a ficar lotado com o trabalho híbrido e as pessoas voltando para o escritório, tirar a máscara me parece um retrocesso. E a luva de plástico? Alguns hábitos deveriam ser perpetuados com a pandemia, como não respirar em cima da comida coletiva e usar álcool gel para limpar as mãos sempre.
De fato, a máscara faz os óculos ficarem embaçados, mas é só limpar direitinho que dá para ir levando. Meu filho adolescente preferiu abandonar de vez o seu porque precisava usar a máscara na escola. Outro dia, ele redescobriu suas lentes e percebeu que o mundo tinha ficado mais nítido. Não sei como será daqui em diante. Até semana passada, tirar a máscara por qualquer motivo, significava ir para a diretoria, ser expulso da sala de aula ou levar uma advertência por escrito.
Agora que o posicionamento sobre usar ou não a máscara é uma decisão individual ou da sua empresa, vale lembrar um estudo que saiu neste início do ano. Conduzido pelo Dr. Michael Lewis, da Universidade Cardiff, mostrou que as pessoas podiam ficar mais atraentes de máscara. Nos experimentos, um grupo de mulheres se sentia mais atraído por homens quando estes usavam máscaras cirúrgicas. Antes da pandemia, um estudo semelhante, dos mesmos pesquisadores, mostrou que os participantes associavam a imagem das pessoas com máscara cirúrgica à doença. Mas depois da pandemia, elas passaram a associá-la à saúde, cuidado e proteção. A decisão agora é sua e pode ser pela saúde, pela estética, pelo conforto ou pelo bem-estar coletivo.
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