Qual é a origem da produtividade no trabalho?

Qual é a origem da produtividade no trabalho?

Publicado em 1 de abril de 2024
Por Sofia Esteves

A colunista Sofia Esteves explica que nem sempre é simples entender o que melhora o desempenho dos funcionários.

Recentemente, o Valor publicou uma reportagem sobre a popularização do uso de “smart drugs” em empresas brasileiras – se você ainda não leu, vale a pena. São medicamentos utilizados por pessoas saudáveis para aumentar a produtividade no trabalho.

 Para além das implicações na saúde e da discussão ética de se usar “smart drugs”, fiquei pensando em uma questão anterior a tudo isso: qual é a origem da produtividade?

A busca pelo aumento da eficiência humana não é nova no mundo do trabalho. Na verdade, existem registros bem antigos de pesquisas sobre como melhorar a produtividade nas empresas. Um exemplo é o conhecido experimento de Hawthorne, feito entre 1927 e 1933.

Na época, um grupo de pesquisadores da Universidade Harvard queria identificar o impacto da intensidade da luz no desempenho das pessoas em uma fábrica da Western Electric Company, em Chicago, nos Estados Unidos. Para isso, foi selecionado um grupo que passou a trabalhar em um ambiente com uma iluminação maior. O resultado? O rendimento aumentou.

 Só que o desempenho desse grupo também se mostrou positivo quando a intensidade da luz foi reduzida. Intrigada, a equipe pesquisadora testou outra variável: quando as pessoas recebiam benefícios, como lanches e intervalos de descanso, a produtividade subia. Porém, da mesma forma que no caso da variação da intensidade da luz, o desempenho continuava positivo quando elas deixavam de receber aqueles “agrados”.

Diante desses resultados, uma das conclusões da equipe que conduziu a pesquisa foi que não eram necessariamente os fatores externos que contribuíam para a melhora da performance, mas o que eles provocavam naquele grupo. No caso, um sentimento de valorização.

 É que, dado que a empresa era grande, com mais de 20 mil pessoas, quem foi escolhido para integrar o pequeno grupo de seis a doze pessoas e participar do estudo se sentiu muito especial. Mais do que isso, foi gerado um sentimento de pertencimento, o que, por sua vez, se refletiu positivamente no trabalho – mesmo quando a intensidade da luz mudava, por exemplo.

Lembrei dessa história ao ler sobre “smart drugs” porque ela ilustra bem a importância de entendermos a fundo os fatores que impulsionam a produtividade. Não é que um salário justo, benefícios atraentes e bom ambiente de trabalho não sejam relevantes para quem trabalha na sua organização. O ponto é que, ao falarmos sobre desempenho, precisamos investigar e analisar o que está por trás dele.

Da mesma forma, é preciso investigar o que leva alguém a recorrer a medicamentos para melhorar a performance. O que está por trás disso? O que o uso indiscriminado e generalizado de “smart drugs” revela sobre a pessoa e a empresa?

No relatório do ano passado sobre a pesquisa Carreira dos Sonhos, abordamos, dentre outros temas, a necessidade de ser realizada uma boa reforma no ambiente de trabalho. Não raras vezes, esse espaço – físico ou simbólico – acaba sendo fonte de estresse e pressão desmedida, em vez de inspirar e motivar as pessoas. Inclusive, constatamos com tristeza que só 53% das pessoas respondentes consideraram que a liderança da sua empresa cultiva forte moral e cultura de equipe.

Cenários como esse servem de alerta para que nós, enquanto líderes, paremos um momento para refletir sobre o estado atual da nossa empresa e se esta precisa ou não de uma boa reforma no ambiente de trabalho. Isso porque, além do apoio para lidarem com saúde mental, as pessoas esperam que as organizações revejam a cultura tóxica. Na verdade, que esse tipo de ambiente não exista.

Para que essa transformação ocorra, é importante que sejam discutidas questões como essa da origem da produtividade e, se for o caso, que sejam operadas mudanças dentro de casa, tanto na gestão do clima quanto na forma de trabalhar – tecnologias como a inteligência artificial estão aí para nos ajudar a otimizar o uso do tempo.

Claro que as pessoas também têm responsabilidade sobre a sua performance e que uma baixa produtividade não necessariamente é consequência de um ambiente tóxico ou de uma liderança desumana. Cabe a cada indivíduo também fazer uma autoanálise sobre o seu desempenho profissional.

Contudo, para compreendermos a realidade e traçarmos planos eficientes, precisamos ir além da superfície da questão e investigar em profundidade o que está por trás de resultados de trabalho abaixo do esperado. É levantar dúvidas, ir além das respostas fáceis e óbvias.

Ficar cara a cara com determinadas perguntas nem sempre é fácil, mas encará-las é o único caminho para uma resolução. Por isso, eu deixo aqui uma questão: afinal, o que faz com que tantas pessoas recorram a um medicamento para melhorar a produtividade?

Fonte: Valor Econômico
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