Rotatividade entre trabalhadores mantém vagas em aberto na agência FGTAS/Sine de Caxias do Sul

Rotatividade entre trabalhadores mantém vagas em aberto na agência FGTAS/Sine de Caxias do Sul

Publicado em 22 de abril de 2024

Funções mais pesadas e com menor remuneração seguem com alto índice de substituição, enquanto empresas buscam soluções para aumentar a permanência dos colaboradores.

Mesmo com uma fila constante de pessoas em busca de emprego, a agência FGTAS/Sine (Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social/Sistema Nacional de Emprego) de Caxias do Sul mantém um quadro de vagas disponíveis praticamente permanente, que parecem não ser preenchidas. A próxima semana, por exemplo, vai iniciar com 291 oportunidades no painel do órgão, esperando por interessados (acesse diariamente as vagas atualizadas pelo link gzh.rs/fgtascaxias).

À primeira vista, o cenário pode demonstrar desinteresse ou falta de qualificação de profissionais aptos para contratação. Mas a realidade mostra uma situação diversa. Segundo a coordenadora da agência local, Zenaira Hoffmann, os postos são geralmente ocupados, mas acabam substituídos rapidamente.

As principais causas da rotatividade, de acordo com ela, estão no serviço pesado e salários pouco atrativos. Funções como ajudante de carga e descarga, auxiliar de limpeza, auxiliar de padaria e servente de pedreiro são preenchidas, mas os trabalhadores ficam pouco tempo no serviço, gerando a rotatividade que explica a manutenção do quadro.

— O setor de logística, que é a vaga de carga e descarga, é um exemplo. Nós enviamos os selecionados para a empresa, fazem entrevista, são contratados, mas logo depois procuram outros empregos, em funções menos cansativas, e acabam saindo. Então, essa vaga volta e é reaberta — revela Zenaira.

Outro fator citado pela coordenadora é o horário de trabalho de algumas ofertas de emprego. Ela lembra que postos ligados ao comércio exigem disponibilidade nos finais de semana, o que afasta o interesse principalmente de alguns jovens.

— Caixa de supermercado também costuma ter vaga constantemente. Como contrata-se mais os jovens, quando começam a rotina de precisarem estar à disposição aos sábados e domingos, muitos desistem. O mesmo acontece no comércio geral. E a rotatividade mantém as vagas no painel — aponta.

Em relação às oportunidades que demandam mais qualificação, Zenaira aponta a diversificação da indústria caxiense como ponto de dificuldade de preenchimento de determinados postos.

— Uma vaga que sempre tem é para soldador. Não é uma questão de falta dessa mão de obra. Mas são profissionais com experiência em um tipo de material, e a indústria local trabalha com vários cenários dentro do mesmo segmento, o que acarreta uma maior dificuldade de encontrar gente — revela a responsável pela agência FGTAS/Sine.

Aumento na procura de grandes empresas impacta oferta de mão de obra

As entidades que representam o setor industrial da Serra acompanham o cenário de empregos com atenção total. O vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), Ruben Antonio Bisi, garante que o cenário local quanto a mão de obra qualificada segue desafiador.

Para o executivo, setores que absorvem muitos funcionários dentro da indústria pesada são diretamente impactados pelo crescimento na demanda de grandes empresas, resultando em falta de profissionais para negócios menores.

— Há picos no cenário econômico que aceleram a defasagem de gente qualificada. Agora, empresas como Marcopolo e Randon estão contratando bastante. Basicamente é soldador, pintor, montador, o que gera um déficit no mercado muito rápido, e forte. Então, faltam para as pequenas empresas. Essas trocas criam um vácuo nessa profissão — comenta Bisi.

O cenário atual, de acordo com ele, acelera a rotatividade e reforça ainda mais a dificuldade de gerar pertencimento entre os empregados e o tempo de permanência nas atividades.

— A quantidade de empresas que necessitam desses tipos de profissionais é muito grande, e eles trocam facilmente, porque nem precisam procurar emprego. Sem contar a questão salarial, de uma empresa para outra. Se uma pagar um pouquinho a mais, leva — avalia.

“O que tem mesmo é a escassez de mão de obra”, afirma presidente da CIC Caxias 

A ideia de que a rotatividade é o principal vilão para a dificuldade em manter os postos de trabalho preenchidos não é corroborada pelo presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Celestino Loro. Para ele, o que há mesmo é a falta de opções de mercado para abastecer a economia local.

Loro revela que, nas conversas com associados da entidade, todos confirmam ter déficit no quadro funcional e que, se houvesse profissionais à disposição, teriam espaço para novas contratações.

— Não sei se posso falar em rotatividade, eu estou um pouco resistente a essa ideia. O que tem mesmo é a escassez de mão de obra. A rotatividade existe, e é do jogo. Todos buscam uma oportunidade melhor, e às vezes surge. Mas o principal é a falta mão de obra. Tenho ouvido de todos os empresários. Eles têm uma, duas, cinco, 500 pessoas que poderiam ser empregadas – aponta o presidente da CIC Caxias.

A busca por alternativas que amenizem o problema, segundo Loro, é recorrente.

— O exercício da criatividade tem sido diário para tentar suprir esses espaços. É o que tem norteado o empresário nos últimos anos. Tem gente colocando até faixas no sinal de trânsito oferecendo vaga, onde antes nós víamos somente propaganda de mercadorias — afirma.

Bônus por indicações que permaneçam no emprego

E a criatividade do setor privado para atrair funcionários e, mais ainda, fazer com que permaneçam no emprego, tem funcionado em alguns casos. No bairro Salgado Filho, em Caxias do Sul, a empresa Malta implantou um programa inovador. Nele, cada funcionário pode indicar um amigo ou familiar para as vagas em aberto. Se a pessoa for contratada e ficar ao menos os três meses de experiência, quem indicou ganha R$ 100.

Na avaliação do proprietário Altair Lorenzo Inácio, o resultado é positivo. Segundo ele, depois que a iniciativa foi criada, a rotatividade caiu 30%.

— Como em muitas vezes são da mesma família, acabam se juntando para trabalhar no mesmo lugar. E um ajuda o outro. Quando têm uma dificuldade, também se apoiam, conversam e isso diminui as demissões — avalia o empresário.

Caso do auxiliar de corte e dobra Elias Santos Siqueira, que recomendou o genro, Anderson Pereira Borges, para uma vaga na fábrica de utilidade domésticas. Passado o período estipulado, recebeu a quantia, e ganhou um amigo no ambiente de trabalho.

— Não é só a amizade lá fora, mas aqui também é muito importante. A coisa até flui melhor. Apesar de os setores não serem ligados, quando sobra um tempo, sempre que podemos estamos conversando — acrescenta.

Fonte: Gaúcha GZH
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